Há meses uma dorzinha nos joelhos me perseguia, inicialmente no fim dos treinos de corrida e depois em repouso. O ortopedista foi direto ao ponto depois de examinar a ressonância: 3 meses sem treinar e reabilitação. Já se foram 4 meses desde então. Ainda não voltei a correr. Minha programação de treinos ficou bem aquém do necessário nesse período. Quem me conhece sabe o quanto sou apaixonada pela corrida e o bem que me faz. Mas por que mesmo assim não consegui manter meus planos e retornar às pistas? Não era um hábito que eu teria que criar, ele já existia, tinha a motivação para fazê-lo e mesmo assim: nada feito. O que me impede de atingir meus objetivos?
Nessas minhas reflexões me deparei com o conceito de multitarefa e me identifiquei imediatamente, a carapuça serviu! Assim como muitas pessoas, me percebo tentando fazer várias coisas ao mesmo tempo. Somos bombardeados com informações a todo momento e é muito fácil cair nessa armadilha. Quase sem perceber já estou iniciando um curso sem acabar o anterior, me comprometendo com mais de um trabalho, e ainda tendo que dar conta da vida pessoal, cuidados com a saúde: alimentação, exercícios, cuidado com a mente. Além do excesso de atividades necessárias (e outras nem tanto assim) acumuladas, existe a interferência constante da tecnologia: notificações de e-mails, redes sociais, telefonemas, as últimas notícias... E lá vou eu, acreditando no mito do multitarefa, tento dar conta do recado.
Ao contrário do que imaginamos, nossa atenção é limitada, a palavra multitarefa implica que você pode fazer duas coisas ao mesmo tempo. Isso não é verdade, Nosso cérebro só nos permite fazer uma coisa de cada vez e temos que alternar entre elas. Estudos têm sido feitos com pessoas bombardeadas com grande fluxo de informações eletrônicas (heavy media multitaskers) e mostram que elas exibem pior desempenho em vários domínios cognitivos (1), com facilidade para distrações e menor capacidade de memorização.
Assim, fazer mais não significa realizar mais, não significa mais satisfação. Quando operamos dessa maneira, a dificuldade de concentração diminui o desempenho.
Fazer uma coisa de cada vez é mais eficiente. Então entra o conceito de foco, que no sentido figurado significa: o ponto para o qual converge alguma coisa. O foco não é a verdadeira realidade, é a visão e percepção de uma pessoa como as coisas são. Segundo o psicólogo e filósofo William James, a atenção “é a tomada de posse
pela mente, de forma clara e vívida, de um entre diversos objetos ou esquemas de
pensamento simultaneamente possíveis. O foco e a concentração da
consciência são sua essência. Implica na retirada de algumas coisas com a
finalidade de lidar efetivamente com outras”.
Onde você tem colocado sua atenção?
Como escolher em que devemos colocar nosso foco e atenção, sabendo que essa decisão implicará em diversas renúncias?
As escolhas que fazemos definem nosso caminho, assim devemos empreender na busca do autoconhecimento para entender o qual queremos seguir. Devemos estar atentos a nós mesmos e ao presente. Pessoas mais atentas são mais autônomas, não fazem as coisas porque os outros querem ou se sentem pressionadas, procuram realizar o que realmente faz sentido e valorizam em suas vidas. Isso vai ao encontro do que propõe o escritor e filósofo Mário Sérgio Cortella em seu livro "Por que fazemos o que fazemos" em relação a escolhas e prioridade, ele diz: "Vale lembrar que prioridade é uma palavra sem plural. Se você põe um 's', deixa de ser prioridade. Quando ouço alguém dizer que tem duas prioridades, eu digo, 'então você não tem, precisa fazer uma escolha'. A prioridade requer exclusividade. Se você deu conta dessa, estabelece outra, ou então abandona essa e passa para a próxima. (...) Em princípio, preciso pensar em quais são minhas metas e prioridades no meu tempo e vou escalonando cada uma sem o 's'. Nessa hora a noção de propósito é fortíssima."
E definida a prioridade, se faz necessário um plano de como realizar a tarefa e atingir o objetivo.
Em 2017, estava perdida em múltiplos afazeres, muitos sem nenhum sentido para mim, mas que fazia por estar no "piloto automático" da vida. Naquele ano, a partir de uma necessidade de definir o que realmente era meu propósito, defini minha primeira prioridade: cuidar da minha saúde - estava vivenciando um ciclo de má alimentação, sedentarismo, falta de energia e ansiedade pelo excesso de tarefas, e a corrida me trouxe de volta o senso de propósito e disciplina que eu buscava. Tracei minha primeira meta SMART (específica, mensurável, alcançável, relevante, com tempo determinado). Corri minha primeira São Silvestre em dezembro de 2017. O efeito desse empenho se expandiu para todos os campos de minha vida. Foi a lição que o esporte me deu.
Hoje tenho que fazer novas escolhas e definir novos caminhos. Mas relembro com entusiasmo o que já deu certo e traço minha próxima meta SMART:
- Me dedicar com afinco ao fortalecimento muscular e voltar a correr;
- Correr 6,6k em 13/07/2019.
Será a força que impulsionará meus novos desafios!
No próximo post conversaremos sobre estratégias para melhorar o foco e atenção. Até breve!
Referência:
1. Uncapher MR, Wagner AD. Minds and brains of media multitaskers : Current findings and future directions. 2018;115(40):9889–96.
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